segunda-feira, 15 de julho de 2013

Processos morfológicos e morfema zero

Oláá pessoal! Essa é a ultima postagem do blog de morfologia, desta vez essa postagem foi feita por mim e pela minha dupla Camyla Martins! Espero que tenham aprendido tanto quanto nós!


A formação de palavras é um conjunto de processos da morfossintaxe, que permite a criação de vocábulos novos em bases em radicais. Dito isso, podemos falar de processos morfológicos, que ocorrem quando uma nova palavra se forma a partir de uma palavra primitiva, com acréscimo de prefixo e sufixo. Esses sufixos, muitas vezes, modificam o significado da palavra e também sua classe gramatical.


Segundo Petter, processos morfológicos são modos de combinações de diferentes de elementos mórficos que produzem um signo linguístico. Essas combinações podem ocorrer por meio de quatro formas: adição, subtração, reduplicação e alternância. Vamos tratar de cada um deles a seguir:


A adição acontece quando afixos são acrescentados à base, que são, no caso, a raiz e a radical. Esse processo pode ser, também, chamado de afixação e ocorre das seguintes maneiras:


  • Prefixação: quando um afixo é acrescido anteriormente à uma base (raiz/radical) alterando, assim, o sentido da palavra. Por exemplo: {in-}capaz, {ante-}braço, {re-}editar, {pre-}meditar;
  • Infixação: quando o afixo é acrescido à base. Não ocorre na língua portuguesa.
  • Sufixação: segue a mesma linha de raciocínio da prefixação, mas, ao invés de acorrer a adição antes da base, acontece depois. Exemplos: pesc{ador}, fech{adura}, rós{eo}, febr{il}, corrig{ível}.
  • Circunfixos: são afixos descontínuos que rodeiam a raiz que, isolados, não possuem signicados. Também não ocorrem na língua portuguesa.
  • Transfixação: quando acrescentam-se afixos, de forma descontínua, em mais de um ponto da raiz, dividindo-a. Assim como alguns exemplos, não ocorre na língua portuguesa.


Já a subtração trata da eliminação de segmentos da base para expressar um valor gramatical. Alguns femininos são formados pela subtração, por exemplo: órfã/órfão


E a reduplicação é a repetição de fonemas da raiz, que podem, ou não, modificarem-se. Ocorre bastante na língua portuguesa, em onomatopeias, apelidos e na internet. Por exemplo: Fátima > Fafá; Puxa-puxa ‘doce’ ; Angélica > Gegé ; Bate-bate ‘carrinho de autopista’ ; Carlos > Cacá;  Pega-pega ‘brincadeira infantil’; Lambe-lambe ‘máquina fotográfica’; Pula-pula ‘brinquedo de parque de diversão; plim plim.


E, por último, a alternância. Que é a substituição de segmentos da raiz por outros, de forma que não seja arbitrária. Por exemplo: pus/pôs; fiz/fez; fui/foi.


Vale ressaltar, galera, que esses processos podem ocorrer ao mesmo tempo!


Feito esse esclarecimento, sigamos ao próximo assunto. Para isso, posso trazer aquela citação do livro O pequeno Princípe que foi retirada de um outro contexto mas, aplicada isoladamente, cabe perfeitamente aqui: “O essencial é invisível aos olhos.”.
Pergunta a quem não domina o estudo da morfologia: Qual a relação entre as coisas?
E nós, que descobrimos há pouco, refutamos com outra pergunta: Por quê quando falamos que o macaco comeu uma banana não precisamos de um morfema para demonstrar, na estrutura, que a banana é apenas uma? Já que, se fossem duas, teríamos um morfema de plural no final da frase indicando essa condição (banana{-s}).
Ou então, por quê quando falamos que “nós amávamos a época de adolescência”, precisamos do {-amos} para indicar o tempo e a pessoa do verbo; sendo que, se falássemos apenas “eu amo a adolescência”, precisamos do {-o} para indicar a pessoa, mas não precisamos de mais nada para indicar o tempo do verbo?
Esse fenômeno, mesmo sendo invisível aos nossos olhos, está presente em boa quantidade na língua portuguesa e é chamado de “morfema zero”.
Gleason, quando disserta sobre esse tipo de morfema, afirma que ele acontece quando não há nenhum morfe que indique sua presença. Quando, em um caso léxico, há a ausência de um morfema que, se presente em outro caso, torna-se um vazio que significa algo.
Sabemos que parece difícil, mas não é. Analisaremos “o quereres”, de Caetano Veloso, e aplicaremos em algumas palavras algumas lições aprendidas aqui. Entretanto, antes, segue a letra completa e o aúdio de uma das músicas mais maravilhosas do mundo na interpretação da voz mais maravilhosa do mundo. <3


Junto do vídeo: 
https://www.youtube.com/watch?v=3qTSNWx5QqA
Vamos à análise:


Onde queres revólver, sou coqueiro
E onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alto, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão


No caso, {des-} é um exemplo de adição prefixal, assim como o {-idão}. No primeiro caso, o morfema cancela ou desfaz a radical seguinte. Já no seguinte, o {-idão} denota qualidade ou estado.
Como já há diversos exemplos a respeito desses fenômenos na própria explicação, adiantemos.


Eu queria querer-te amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e é de viés
E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero (e não queres) como sou
Não te quero (e não queres) como és


Analisando o verbo querer, vemos que “quero” está em primeira pessoa do singular e “queres” em segunda, ambos do presente do indicativo.  Kehdi diz que, para se encontrar morfemas zero em um verbo, há de se conjugá-lo, separando as semelhanças e fazendo um trabalho exaustivo e metódico. Nessa caso, só analisaremos esse tempo modo temporal até a quarta pessoa:


QUERER - PRESENTE DO INDICATIVO


Eu quero
Tu queres
Eles querem
Nós queremos
Eles querem


Nota-se, então, que {quer-}, pela constância, é a raiz desse verbo.  


Eu quer o
Tu quer es
Eles quer em
Nós quer emos
Eles quer em


Agora, o morfema modo-temporal predominante é {-e} e não {-o}, como na primeira pessoa. Tratando-se, então, de uma alomorfia de vogal temática, coisa que já havíamos explicado em posts anteriores.
E chegamos a parte mais importante:

Eu quer o
Tu quer e s
Eles quer e m
Nós quer e mos
Eles quer e m


Há, na maioria dos verbos, um morfema que indica o número pessoal do verbo. Entretanto, “quero” não há nenhum morfema onde, nos outros, há. A primeira pessoa presente do indicativo, segundo Kehdi, sempre terá um morfema zero onde seria o morfema que indicaria o número-pessoal.

Há diversos outros morfemas zero, como no caso do singular, que não necessita nunca de uma marcação. Assim como algumas palavras que o número pessoal é empregado no artigo, e não conjugada na palavra.


Onde queres comício, flipper-vídeo
E onde queres romance, rock?n roll
Onde queres a lua, eu sou o sol
E onde a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério, eu sou a luz
E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro
E onde queres coqueiro, eu sou obus


No caso das palavras como “comício”, “lua”, “luz”, “coqueiro”, se flexionadas para o plural, terão {-s} ou seus alomorfes no final. Mas no singular, não há nada. Aliás, há o morfema zero. Assim como em “obus”, que não há flexão de plural, se igualando a palavras como “lápis”, “ônibus”.

Pois bem, esperamos que tenham entendido! Estamos chegando ao fim do nosso curso e esse é o nosso penúltimo trabalho. Há um saldo super positivo, por fim, e, sinceramente, indicamos que, se possível, dê o devido valor e tempo ao estudo da morfologia.  É uma ciência fantástica e, mesmo parecendo complicada num primeiro contato, é agradável e fácil de se acostumar. Quando vemos, estamos analisando palavras em conversas informais...

Esse é o nosso trabalho e, como sempre, estamos abertas às criticas, sugestões, elogios e etc.

Alomorfia

Olá galera, hoje vou tratar de alomorfia para compreendermos mais sobre a morfologia!

De acordo com o dicionário, alomorfia significa 'passagem de uma forma para outra diferente, metamorfose'. Sendo assim, quando há alomorfia existe uma mudança apenas na forma, porém conserva-se função e significado daquele fonema. A alomorfia é mudança na forma de um morfema.

Segundo Petter, alomorfia: é a variação do mesmo fonema. O conjunto de morfes que representam o mesmo fonema são denominados alomorfes.


Para entendermos melhor, vejamos as ocorrências do prefixo IN-: infeliz, incomum, ingrato, inconstante, etc. Percebemos que em todos os casos o fonema tem a mesma função, a de negar o significado da palavra que vem em seguida a ele. Acontece, porém, que também temos as palavras imoral, ilegal, ilícito, irrepreensível, às quais é acrescido o prefixo I-, que tem exatamente o mesmo significado que IN. Não é coincidência. Neste caso, o prefixo IN sofreu uma alomorfia, uma mudança de forma, e pode ser identificado através de dois alomorfes: IN e I

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Raiz, radical, afixos, alomorfes, vogal temática

Oii pessoal!

Desta vez vou relacionar os morfemas diretamente relacionado com o universo da realidade, o qual chama-se radical. O radical informa sobre o sentido básico da palavra. De acordo com  Kehdi temos: "O radical corresponde ao elemento irredutível e comum a palavras de uma mesma família. Devemos evitar a designação de raiz." 

Nós vamos adotar o conceito de Aronoff e Haspelmath sobre raiz/radical, pois o conceito é mais atual. A raiz é a base primária, elemento originário e irredutível, esta possui a base semântica da palavra. Radical  é a base secundária em que é possível acrescentar novos morfemas à língua. O radical é a junção da raiz com o morfema que forma, então, uma palavra.

Um determinado radical pode apresentar algumas variações. Observem, por exemplo, o radical vit/vid nas palavras vital, vitalício, vitalidade, vitalizador, revitalizar, vidinha, vidão, vidaço, vidaça. Apesar das diferenças de sentido, essas palavras tem um núcleo significativo comum, que é o radical. Por isso, elas pertencem a mesma família de palavras.

 Agora, vamos relacionar morfemas  com o universo da língua os quais são os afixos e vogal temática. Esses morfemas tem significação mais limitada, porque não estabelecem uma relação direta com o universo da realidade. Atuam no âmbito da própria língua, complementando ou mudando o sentido do morfema básico, o radical. 

Os afixos são morfemas que se juntam ao radical, modificando seu sentido básico. Quando são colocados antes do radical, chamam-se de prefixos; quando colocados depois do radical, chamam-se sufixos. Veja o exemplo:      in          dispens      ável
               (prefixo)   (radical)    (sufixo)

Os afixos gramaticas mais gramaticais são aqueles que fazem parte da flexão, assim como o sufixo de número, modo-tempo, verbo. Já os afixos derivacionais são aqueles que formam novas palavras.

A vogal temática é a vogal que sucede o radical de verbos ou nomes. Em verbos, indica a conjugação que pertencem. São vogais temáticas de verbos: -a, que indica a 1ª conjugação: junt a mos; -e, que indica a 2ª conjugação: bat e ndo; -i. que indica a 3ª conjugação: sent i a.

 Segue um exemplo, que me fez lembrar da matéria enquanto assistia a tv.


 



 Fazendo a análise de algumas palavras como inevitável e ináceitavel, podemos abordar o exemplo de  afixos, em que os morfemas se juntam ao radical. Veja:
  •      in         evit         ável
    (prefixo) (radical)  (sufixo)
  •  evit          ável
    (radical) (sufixo) 










domingo, 12 de maio de 2013



 Formas livres, presas e dependentes


        Independentemente do falante de uma língua ter ou não o conhecimento de sua própria língua, os processos de formação das palavras existem e são responsáveis pela formação destas.

         No mundo em que vivemos há uma constante transformação de objetos e conceitos que nascem no dia a dia devido às novas necessidades de comunicação. A língua se transforma e se recria constantemente.

         Conhecer os processos de formação de palavras nos possibilita e habilita a utiliza-los de forma mais eficiente e criativa. Por isso agora, vamos estudar as formas livres, presas e dependentes.

         De acordo com Bloomfield temos duas unidades formais: as formas livres, as quais constituem uma sequência que pode funcionar isoladamente contendo comunicação suficiente e as formas presas, que são aquelas que só funcionam ligadas a outras.

         As formas livres são aquelas que, sozinhas, possuem um significado e constituem um enunciado, permitindo que a interação e a comunicação sejam feitas. Por exemplo, a palavra “socorro”, rapidamente, as pessoas vão socorrer alguém ou perceber que alguém está em perigo, enfim, é possível que se compreenda a situação. Desta forma, esta palavra é uma forma livre, desapegada, não necessita de companhia de outros vocábulos para poder entender.

         As formas presas são aquelas que não possuem sentido sozinhas, e assim, não formam um enunciado se não estiverem ligadas. Por exemplo, o prefixo ‘re’, este só funciona ligada as palavras, como: rever, renascer, recorrer, recriar, refazer. De acordo com Bloomfield, a palavra pode ser constituída:

         a) de uma forma livre mínima, indivisível, por exemplo: leal, luz

         b) de duas formas livres mínimas, como: beija-flor, couve-flor

      c) de uma forma livre e uma ou mais presas, como: leal-dade , in- felizmente (sendo leal a unidade livre e dade a parte presa, e in a parte livre e felizmente a parte presa)

         Mattoso Câmara introduziu um novo conceito, as formas dependentes. Estas funcionam ligadas as livres, mas não tem um enunciado sendo sozinhas,pois a comunicação é insuficiente. Mas também não são presas, porque permitem a intercalação de novas formas entre elas. Para entendermos melhor, são formas dependentes os artigos, as preposições, algumas conjunções, os pronomes oblíquos, átonos que não podem constituir um enunciado.
        Já que estamos falando de formas livres dependentes e presas, é importante diferenciar e conceituar morferma de morfe.
          Morfema é a menor unidade significativa que se pode identificar. Ou seja, são as partes de uma palavra, é a menor partícula significativa. Quando analisamos uma palavra morfologicamente, ou seja, quando analisamos a sua forma, podemos separar as partes desta palavra, seus morfemas.
           Morfe é um segmento mínimo que representa um dado morferma, é a parte concreta. Por exemplo: o morfe -s, em livros, representa o plural de livro.
           Vamos ao momento de descontação do blog pessoal! 



          

            Analisando a tirinha acima, temos um exemplo de forma livre, a palavra socorro, que sozinha posssui uma comunicação suficiente. Assim que o filho pediu socorro o pai e a mãe foram acudir.